Já nos tempos do Antigo Testamento os líderes do povo de Deus (reis, sacerdotes, profetas) já eram chamados de pastores (ver exemplo em Jer. 23:1-4) porque tinham a função de guiar, conduzir o povo pelos caminhos estabelecidos por Deus. No Novo Testamento encontramos três designações para a mesma pessoa que é responsável pela condução da igreja, do povo de Deus. Em Atos 20:17,28, encontramos o apóstolo Paulo reunido com os anciãos da igreja de Éfeso (v.17), aos quais chama também de bispos e declara que foram constituídos para exercerem a tarefa de pastoreio. Neste texto fica estabelecido que na igreja primitiva o que pastoreava era, também o bispo que supervisionava e, ainda, o ancião (ou presbítero) que ensinava, aconselhava exortava.
Daí por diante, vamos encontrar o apóstolo Paulo sempre se referindo aos incumbidos de dirigirem as igrejas de Cristo, como pastores, ou presbíteros, ou bispos (ver Ef. 4:11; Heb. 13:7,17 e Tito 1:5,7) e nunca se referindo a eles como pessoas diferentes em cargos diferentes. O que precisamos entender é que o líder da igreja, na realidade, desempenha três funções essenciais para a condução do povo de Deus.
1. Pastor. Em Efésios 4:11 o apóstolo Paulo usou a expressão grega poiménas que significa literalmente pastores. Em Hebreus 13:7,17, a expressão usada é uma derivação de eiguéomai que significa chefe, condutor, que exerce governo. Para entendermos bem a função de pastoreio, podemos ler as explicações de Jesus encontradas em João 10:1-11. O Pastor é quem tira as ovelhas para fora do curral (v. 3 e 4); é quem vai adiante delas indicando-lhes o caminho; é quem chama pelas ovelhas dizendo-lhes do perigo (v.4); é quem deve estar alerta contra os animais ferozes que rodeiam o rebanho (v. 11 e 12).
Para que um pastor possa desempenhar bem a sua função, são requeridas na Bíblia algumas atitudes das ovelhas para com ele:
a) Precisa ser seguido (Heb. 13:7). Não se pode imaginar um pastor que esteja sendo conduzido pelo rebanho, que deixe que o rebanho o conduza. Infelizmente alguns crentes em muitas ocasiões não se conformam em serem ovelhas e passam a querer conduzir o pastor, passam a querer governar o pastor, dizendo-lhe o que deve fazer e por onde deve andar. Não é por acaso que o povo de Deus é comparado a um rebanho de ovelhas e não é também por acaso que pastores foram constituídos para estarem adiante do rebanho. Ovelhas precisam seguir por caminhos bíblicos, seguros, e é o pastor quem deve conduzi-las.
b) Precisa ser obedecido (Heb. 13:17), porque são os pastores que velam pela vida espiritual dos que compõem a igreja. Existem igrejas onde os encarregados de velarem pela vida espiritual são componentes de uma comissão, ou são os diáconos, ou são outras pessoas quaisquer. Mas esta função é atribuída na Bíblia somente aos pastores, porque são eles que darão contas das almas das ovelhas. Muitas pessoas querem ter o privilégio de conduzir, de ditar normas nas igrejas, mas somente o pastor é quem dará contas do rebanho a Deus. Por isso mesmo ele deve ter cuidado na condução do rebanho, sabendo que este não lhe pertence e que deve ser conduzido segundo os padrões pré-estabelecidos pelo Senhor das ovelhas, que são encontrados nas Escrituras.
Os pastores devem também ser obedecidos para que a igreja desfrute de uma condução alegre e agradável para ela própria. Quando os pastores gemem debaixo da pesada carga da desobediência das ovelhas, as igrejas também sofrem.
2. Bispo. A expressão grega traduzida por bispo é episkopoi, que significa superintendente, supervisor. Retornando a Atos 20:28, lemos que o pastor é constituído bispo da igreja pelo próprio Espírito Santo. Um pastor que tenha convicção da sua vocação, do seu ministério, não tem coragem de passar o episcopado a outra pessoa por sua própria vontade. Ele precisa assumir esta função por mais pesada que lhe pareça, por mais árdua e ingrata que seja.
Pelo desejo de poder, há pessoas que desejam se tornar superintendentes das igrejas de Cristo, mas talvez não percebam o grave erro em que estão incorrendo, porque é o que desejam por suas próprias vontades, quando é necessário que sejam vocacionadas pelo Espírito Santo para tal obra.
Em algumas igrejas a função de supervisão, de superintendência, é atribuída a um grupo de irmãos e em outras a uma só pessoa, mesmo não sendo o pastor. No entanto, diante do Espírito de Deus, quem dará contas dessa função é o pastor da igreja. Há muitos crentes, há diversos dons do Espírito Santo distribuídos aos crentes nas igrejas de Cristo, mas a supervisão de todos cabe sempre ao que recebeu o dom de pastorear o rebanho.
3. Ancião. No grego presbyteroi, daí também usar-se a expressão transliterada presbítero. Significa o que tem sabedoria, o que tem capacidade para ensinar, conselheiro. É uma função herdada do Antigo Testamento, do povo hebreu, que tinha seus anciãos, seus conselheiros. Por isso, escrevendo a Timóteo, dando instruções a respeito do estabelecimento de bispos sobre as igrejas, o apóstolo Paulo disse que devem ser aptos para ensinar (1Tm 3:2).
Esta é uma função do pastor. Ele pode delegar poderes a alguém para ensinar à igreja que conduz, para auxiliá-lo em seu ministério, mas deve fazê-lo conscientemente, conhecendo a firmeza doutrinária daquele a quem está delegando a tarefa, porque o pastor, ao delegar poderes para o ensino, não se exime da responsabilidade do ensino. É ele quem dará contas a Deus do rebanho que conduz e que pertence ao próprio Senhor.
Concluindo, podemos dizer que:
a) Se um crente se deixar conduzir por um outro crente qualquer, estará se expondo a ser conduzido por quem não tem responsabilidade estabelecida pelo dono do rebanho e que, portanto, pode conduzir o crente de qualquer maneira.
b) Não existe nada pior para uma igreja do que a desobediência a pastores que procuram conduzir o rebanho dentro dos princípios estabelecidos por Cristo. Isto faz com que uma igreja se arraste com muitos problemas e crie sofrimentos terríveis para o seu líder, que indubitavelmente irá refletir todo o seu sofrimento sobre o rebanho.
c) Existem pessoas que desejam estabelecer caminhos próprios para que os pastores conduzam a igreja. Devem lembrar-se que a igreja é de Cristo, que Ele deixou diretrizes a serem observadas e que constituiu os pastores para que conduzam suas ovelhas através dessas diretrizes.
d) Ninguém deve culpar o pastor por querer conduzir a igreja dentro dos princípios bíblicos. Deve, antes, aceitar os ensinos e procurar mudar seu coração se porventura pensar de maneira diferente dos padrões estabelecidos no Novo Testamento.
e) A igreja deve estar sempre orando pelo seu pastor, para que Deus o capacite a conhecer cada vez melhor o caminho bíblico e para que Deus lhe dê sabedoria.
f) Se alguém auxilia o pastor na tarefa de ensinar, compenetre-se de que está cumprindo uma função que é pastoral, porque o pastor de sua igreja lhe delegou poderes para isto. Assim ele será mais fiel a um compromisso muito sério com Deus.